Na Ponte de Comando 30/12/2010

No final da tarde de ontem fui transferido para a Ponte de Comando para trabalhar como Quartermaster, uma espécie de assistente dos oficiais que trabalham na Ponte de Comando.Terminei o meu turno no Deck e na mesma noite comecei o trabalho na Ponte. O meu turno agora será quebrado, das 8 às 12 horas (da manhã e da noite). Trabalhamos 4 horas e folgamos 8 horas. Mesmo não estando mais no Deck em tempo integral, continuo no time de artilharia para quando esse for chamado e posso ajudar durante os meus intervalos nas tarefas para as quais fui treinado (combate a incêndios, lançamento do barco Delta, etc), sempre a critério do Bosun (chefe da equipe do Deck).

Eu cheguei nessa missão atrasado em relação aos outros voluntários, que iniciaram de dois meses a duas semanas antes da minha chegada. Por isso, agora terei que me adaptar a uma nova função e equipe que já está bem treinada e adaptada, mas nesse caso já há meio caminho andado. Isso porque os meus companheiros de turno na Ponte de Comando são o Gunter (Oficial do turno) e a Roberta (que também é Quartermaster, ambos brasileiros e já conhecidos. A Bárbara, fotógrafa oficial da expedição, também é brasileira e sempre passa pela Ponte no turno da noite. Há um determinado momento em que a Ponte de Comando está dominada por brasileiros, pois o Luis, oficial a quem é feita a transferência para o turno das 12 às 4, também é brasileiro.

Logo no primeiro turno, aprendi a operar as funções básicas dos radares, a usar as cartas de navegação, entre outras tarefas. Apesar de não haver noite aqui no Sul do planeta, os horários das refeições e o leve entardecer impõem um ciclo, o que faz do turno das 8 às 12 um bom turno no que diz respeito ao ritmo. Nos dois turnos de hoje pude aprender ainda mais sobre as funções na Ponte. Por estarmos tão próximo ao continente e a camada de gelo que o antecede, começamos a entrar em uma zona onde há muitos icebergs e growlers (pedaços de icebergs de difícil visualização e que podem causar danos ao casco do navio).



Durante o período da manhã, passamos a 50 metros de um iceberg que o radar mostrou ter mais de dois quilômetros de extensão. É difícil descrever a sensação quando se está tão próximo de um iceberg. Em pensar de onde ele veio, qual corrente o leva, há quanto tempo ele está congelado (mais de 10 mil anos) e que com tantas variáveis, ele foi justamente cruzar o nosso caminho para que pudéssemos admirá-lo! Imaginem uma praia que tenha dois quilômetros de extensão e agora imaginem um enorme bloco de gelo com 50 metros de altura sendo trazido pelo oceano de modo a se encaixar em toda a extensão dessa praia. Esse é o tamanho do iceberg pelo qual passamos hoje. A sua borda sofre o impacto das ondas de água salgada que o esculpem (o iceberg é formado por água doce) com formas, rampas e túneis.

Foto de Sam Sielen


Agora temos um iceberg depois do outro. Há sempre pelo menos quatro icebergs no radar que mostra até 96 milhas náuticas de distância e há sempre pelo menos dois icebergs ao alcance da vista. Enquanto esses são deslumbrantes e fáceis de serem vistos, os growlers são o problema, pois não podem ser vistos até que estejam muito próximos e precisamos desviar deles com agilidade para não abrir uma rachadura no casco do navio, o que poderia ser fatal na nossa localização atual. A tarefa de monitorar a presença de growlers está na maior parte do tempo com os Quartermaster, sendo essa uma das suas responsabilidades.


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